Pe. ANTÓNIO VIEIRA

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"Imperador da língua portuguesa"
                               (Fernando Pessoa)

antniovieira.jpg
(1608-1697)

Pe. António Vieira na WIKIPÉDIA

  

              " (...) O maior jugo de um reino, a mais pesada carga de uma república são os seus imoderados tributos. Se queremos que sejam leves, se queremos que sejam suaves, repartam-se por todos"

(do "Sermão de Santo António", pregado em 1642)

 

 

 

 

[sobre as conquistas pelos holandeses de terras portuguesas no Brasil]: “Se esta havia de ser a paga e o fruto de nossos trabalhos, para que foi o trabalhar, para que foi o servir, para que foi o derramar tanto e tão ilustre sangue nestas conquistas? Para que abrimos os mares nunca dantes navegados? Para que descobrimos as regiões e os climas não conhecidos? Para que contrastámos os ventos e as tempestades com tanto arrojo, que apenas há baixio no oceano, que não esteja infamado com miserabilíssimos naufrágios de portugueses? E depois de tantos perigos, depois de tantas desgraças, depois de tantas e tão lastimosas mortes, ou nas praias desertas sem sepultura, ou sepultados nas entranhas dos Alarves, das feras, dos peixes, que as terras que assim ganhámos, as hajamos de perder assim! Oh!, quanto melhor nos fora nunca conseguir, nem intentar tais empresas!”.

(do “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as da Holanda”, pregado em 1640)

 

 

 

 

“Assim como Madalena, cega de amor, chorava às portas da sepultura de Cristo, assim Portugal, sempre amante dos seus reis, insistia ao sepulcro de el-rei D.Sebastião, chorando e suspirando por ele; e assim como Madalena ao mesmo tempo tinha a Cristo presente e vivo, e o via com seus olhos e lhe falava e não o conhecia, porque estava encoberto e disfarçado, assim Portugal tinha presente e vivo a el-rei nosso senhor, e o via e lhe falava e não o conhecia (…) ”.

“ (…) Nem mais nem menos Portugal, depois da morte de seu último rei. Buscava-o por esse Mundo, perguntava por ele, não sabia onde estava, chorava, suspirava, gemia, e o rei vivo e verdadeiro deixava-se estar encoberto e não se manifestava, porque não era ainda chegada a ocasião; porém, tanto que o Reino, animoso sobre as suas forças, se deliberou a dizer resolutamente: eu o levantarei e sustentarei com meus braços, então se descobriu o encoberto Senhor, porque então era chegado o tempo (…) “.

“ (…) Da mesma maneira se deu princípio à redenção e restauração de Portugal em tais dias e em tal ano, no celebradíssimo de 40, porque esse era o tempo oportuno e decretado por Deus; e não antes nem depois, como os homens quiseram”.

(do “Sermão dos Bons Anos”, pregado em 1642)

 

 

 

       “Todos nos cansamos em guardar Portugal dos Castelhanos, e devêramo-nos cansar mais em o guardar de nós. Guardemos o nosso Reino de nós, que nós somos os que lhe fazemos a maior guerra (…) “.

(do “Sermão pelo bom sucesso das nossas armas”, pregado em 1645)

 

 

 

 

“Dos animais terrestres o cão é tão doméstico, o cavalo tão sujeito, o boi tão serviçal, o bugio tão amigo ou tão lisonjeiro, e até os leões e os tigres com arte e benefícios se amansam. Dos animais do ar, afora aquelas aves que se criam e vivem connosco, o papagaio fala, o rouxinol nos canta, o açor nos ajuda e nos recreia; e até as grandes aves de rapina, encolhendo as unhas, reconhecem a mão de quem recebem o sustento. Os peixes, pelo contrário, lá se vivem nos seus mares e rios, lá se mergulham nos seus pegos, lá se escondem nas suas grutas, e não há nenhum tão grande que se fie do homem, nem tão pequeno que não fuja dele”.

“ (…) Vede, peixes, quão grande bem é estar longe dos homens. Perguntado um grande filósofo qual era a melhor terra do Mundo, respondeu que a mais deserta, porque tinha os homens mais longe”.

“ (…) Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se há-de comer. Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários, comem-no os credores; comem-no os oficiais dos órfãos e os dos defuntos e ausentes; come-o o médico, que o curou ou ajudou a morrer; come-o o sangrador que lhe tirou o sangue; come-o a mesma mulher, que de má vontade lhe dá para a mortalha o lençol mais velho da casa; come-o o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos, e os que, cantando, o levam a enterrar; enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra”.

“Vede um homem desses que andam perseguidos de pleitos ou acusados de crimes, e olhai quantos o estão comendo (…) São piores os homens que os corvos. O triste que foi à forca, não o comem os corvos senão depois de executado e morto; e o que anda em juízo, ainda não está executado nem sentenciado, e já está comido”.

“A diferença que há entre o pão e os outros comeres, é que para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come; e isto é o que padecem os pequenos. São o pão quotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem (…) “.

(do “Sermão de Santo António”)

 

 

 

 

            “ (…) Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três cousas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que cousa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça, o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento”.

            “Sempre Deus está pronto da sua parte, com o sol para aquentar e com a chuva para regar; com o sol para alumiar e com a chuva para amolecer, se os nossos corações quiserem (…) Se Deus dá o seu sol e a sua chuva aos bons e aos maus; aos maus que se quiserem fazer bons, como a negará?”.

            “Palavras sem obras são tiros sem bala; atroam, mas não ferem (…) O pregar que é falar, faz-se com a boca; o pregar que é semear, faz-se com a mão. Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras”.

            “O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem e tão alto que tenham muito que entender os que sabem. O rústico acha documentos nas estrelas para sua lavoura e o mareante para sua navegação e o matemático para as suas observações e para os seus juízos. De maneira que o rústico e o mareante, que não sabem ler nem escrever, entendem as estrelas; e o matemático, que tem lido quantos escreveram, não alcança a entender quanto nelas há”.

            “As razões não hão-de ser enxertadas, hão-de ser nascidas (…) As razões próprias nascem do entendimento, as alheias vão pegadas à memória, e os homens não se convencem pela memória, senão pelo entendimento”.

(do “Sermão da Sexagésima”, pregado em 1655)

 

 

 

 

[Arca de Noé] “Como pode ser que coubessem em tão pequeno lugar tantos animais, tão grandes e tão feros? O leão, para quem toda a Líbia era pouca campanha; a águia, para quem todo o ar era pouca esfera; o touro, que não cabia na praça; o tigre, que não cabia no bosque; o elefante, que não cabia em si mesmo. Que todos estes animais e tantos outros de igual fereza e grandeza coubessem juntos em uma arca tão pequena?! Sim, cabiam todos, porque, ainda que a arca era pequena, a tempestade era grande”.

(do “Sermão do primeiro domingo do Advento”, III, pregado em 1650)

 

 

 

            “Sàbiamente falou quem disse que a perfeição não consiste nos verbos, senão nos advérbios; não em que as nossas obras sejam honestas e boas, senão em que sejam bem feitas”.

    (do “Sermão do primeiro domingo do Advento”, II, pregado em 1650)

 

 

 

                       “Porque nem a Primavera com as suas flores, nem o Estio com as suas espigas, nem o Outono com os seus frutos, nem o Inverno com os seus frios e neves, por mais tolhido e entorpecido que pareça, podem estar parados um momento. Passam as horas, passam os dias, passam os anos, passam os séculos, e se houvesse hieróglifo com que se pudessem pintar, havia de ser todos com asas, não só correndo e fugindo, mas voando e desaparecendo”.

(do “Sermão do primeiro domingo do Advento”, IV, pregado em 1650)

 

            “Dito foi do grande filósofo Heraclito, alegado e celebrado por Sócrates, que «nenhum homem podia entrar duas vezes em um rio». E porquê? Porque quando entrasse a segunda vez, já o rio, que sempre corre e passa, é outro. E de aqui infiro eu que o mesmo sucederia se não fosse rio, senão lago ou tanque aquele em que o homem entrasse; porque ainda que a água de lago e do tanque não corre, nem se muda, corre porém e sempre se está mudando o homem, que «nunca permanece no mesmo estado». Assim o disse Job, e quem o não disser assim de todo o homem, e de si mesmo, não se conhece”

(do “Sermão do primeiro domingo do Advento”, V, pregado em 1650)

 

 

 

            “ (…) Dédalo, aquele famoso artífice que preso em uma torre inventou e formou as asas com que fugiu dela voando, vendo que Perdiz, seu discípulo, inventara o compasso, e da imitação de uma espinha a serra, temendo que o havia de exceder no talento, o despenhou primeiro na mesma torre (…) Mas que muito é que o barro caia e se quebre, se o entendimento de Lúcifer, sendo o maior que Deus criou, excedendo-o só o do mesmo Deus, antes quis cair do Céu, que ver-se nele excedido!”.

(do “Sermão do primeiro domingo do Advento”, IX, pregado em 1650)

 

 

 

 

“Todos os Portugueses que povoavam suas Índias, que mareavam suas frotas, que lavravam seus campos, que freqüentavam seus portos, que trafegavam seus comércios, que inteiravam seus presídios, que militavam seus exércitos, ficam hoje dentro em Portugal, e o habitam e o enchem e o multiplicam, e assim se vêem hoje mais povoados seus lugares, mais freqüentadas suas estradas, mais lavrados seus campos, e até as serras, brenhas, lagos e terras, onde nunca entrou ferro, nem arado, abertas e cultivadas”.

(“História do Futuro”, Livro I, Capítulo VII)

 

 

“E por não deixarmos sem juízo a controvérsia disputada entre as cousas novas e as velhas, certamente entre umas e outras não se pode dar regra certa. O tempo umas cousas melhora e outras corrompe: ouro velho, vinho velho, amigo velho; casa nova, navio novo, vestido novo. A velhice no ouro é preço, no vinho madureza, no amigo constância, no vestido pobreza, no navio e na casa perigo; absolutamente nas cousas que se consomem com o tempo, melhores são as novas”.

(“História do Futuro”, Livro I, Capítulo XI)

 

 

 

“(…) sei que não é cousa nova em Deus, quando quer passar a religião de um reino a outros, meter neles a Fé às costas do interesse. Quando os deuses de Tróia passaram a Itália, Anquises levava os deuses na mão, e Eneias levava às costas a Anquises. Os pregadores levam a Fé aos reinos estranhos, e o comércio leva às costas os pregadores”.

(“História do Futuro”, Livro II, Capítulo VI)

 

 

 

 

“A esfera da voz é, sem comparação, mais limitada que a da vista. Mas isto se entende da voz com que falamos, e não da voz com que oramos. A voz com que falamos mal se estende a toda esta igreja; e a vista tem tanto maior e mais alta esfera que chega ao firmamento, onde vemos as estrelas. Porém, a voz com que oramos, não só chega ao firmamento, que vemos, que é o céu das estrelas, mas ao mesmo empíreo, que não vemos, que é o céu de Deus. O céu que vemos é o céu da terra; o céu onde está Deus é o céu do céu”.

(“Sermão da Rosa Mística”, sermão I, III)

 

 

 

“Deus, por sua imensidade, está em toda a parte, e não só conosco, senão em nós, em qualquer lugar onde estivermos. Logo não é necessário invocar a Deus enquanto está no céu, pois também o temos na terra quanto mais que invocá-lo no céu, parece que é afastarmos a Deus de nós, e orar de longe, quando fora mais conveniente e mais conforme ao afeto da devoção fazê-lo de perto. Não é mais conveniente falarmos com Deus onde ele está e nós estamos, que onde ele está e nós não?”

 

(“Sermão da Rosa Mística”, sermão I, III)

 

 

 

“O sagrado e o de Deus no último lugar; nós e o nosso no primeiro. Oram os homens como vivem. Os interesses e conveniências temporais diante de tudo, como se faz na vida; o de Deus, o da consciência, o da alma lá para o fim, como se faz na morte”.

(“Sermão da Rosa Mística”, sermão I, V)

 

 

 

“Os anos e os dias do Mundo fá-los o curso do Sol; os anos e os dias dos reinos, fazem-nos as ações dos príncipes. O Sol pode fazer dias longos; dias grandes só os fazem e podem fazer as ações”.

(“Sermão Histórico e Panegírico nos Anos da Rainha D. Maria Francisca de Sabóia”, I)

 

 

 

“É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre, que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que, ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro. O pai não tem seguro o filho, o rico não tem segura a fazenda, o pobre não tem seguro o seu suor, o nobre não tem segura a honra, o eclesiástico não tem segura a imunidade, o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus nos templos e nos sacrários não está seguro”.

(“Sermão Histórico e Panegírico nos Anos da Rainha D. Maria Francisca de Sabóia”, II)

 

 

 

“Ninguém pode mandar só, se houver de mandar como convém. Ao lado do ofício de mandar, deve andar sempre o ofício de sugerir, ou como companheiro, ou como instrumento inseparável. A obrigação e exercício deste segundo e tão importante ofício, é o que significa a mesma palavra sugerir, que vem a ser – lembrar, advertir, inspirar, aconselhar, conferir, persuadir, espertar, instar. Os talentos que para o mesmo ofício se requerem, são maiores e mais relevantes: grande entendimento, grande compreensão, grande juízo, grande conselho, grande zelo, grande fidelidade, grande vigilância, grande cuidado, grande valor. As disposições e os meios com que se exercita ainda são de mais altas e mais interiores prerrogativas: suma comunicação, suma confiança, íntima amizade, íntima familiaridade, íntimo amor; e não só perfeita união, senão ainda unidade. De sorte que os dois sujeitos em que concorreram estes dois ofícios, de tal maneira hão de ser dois, que verdadeiramente sejam um; de tal maneira hão de ser diversos, que verdadeiramente seja o mesmo”.

(“Sermão Histórico e Panegírico nos Anos da Rainha D. Maria Francisca de Sabóia”, VIII)

 

 

 

“Fiar-se só de si e aconselhar-se só consigo, tem o perigo do amor próprio; fiar-se só de outro e aconselhar-se só com outro, tem o risco do interesse alheio. Haja logo um tribunal supremo e um conselho íntimo e secreto, que, compondo-se de dois, seja juntamente um, e formando-se de diversos, seja juntamente o mesmo, para que nesta recíproca diferença se segurem os perigos da primeira desconfiança e nesta recíproca identidade os riscos da segunda. O perigo da desconfiança de si, segura-se na diferença, porque sou eu e mais outro; o risco da desconfiança de outro, segura-se na identidade, porque esse outro sou eu”.

(“Sermão Histórico e Panegírico nos Anos da Rainha D. Maria Francisca de Sabóia”, IX)

 

 

 

“A vida sempre caminha ao mesmo passo, porque segue o curso do tempo: a morte nenhuma ordem guarda no caminhar, nem ainda no ser. Umas vezes é uma anatomia de ossos que anda, outras um cavaleiro que corre, outras uma foice que voa. Para estes vem andando, para aqueles correndo, para os outros voando. Se a morte, ou para todos andara, ou para todos correra, ou para todos voara, era igual a morte. Mas andar para uns, para outros correr, e para mim voar? Oh! morte, quem te cortara as asas. Mas bem é que bata as asas, para que nos abatamos as rodas. Pinta-se a morte com uma foice segadora na mão direita, e um relógio com asas na mão esquerda. Se alguma hora foi assim a morte, troque-se daqui por diante a pintura, que já não é assim. Ecce falx volans. Tirou a morte as asas do relógio da mão esquerda, e passou-as à foice da mão direita, porque é mais apressada a foice da morte em cortar que o relógio da vida em correr. Ainda quando a morte não voa, corre mais que a vida”.

(“Sermão nas exéquias de D. Maria de Ataíde”, III)

 

 

 

“Desde a terra até o céu está estabelecida esta lei. Na terra a rosa, rainha das flores, é efêmera de um dia: toda aquela pompa branca, toda aquela ambição encarnada de que se veste, pela manhã são mantilhas, ao meio-dia galas, à noite mortalhas. No céu a lua, rainha das estrelas, quem a viu cheia, retrato da formosura, que logo a não visse minguante, depois da mudança? Quando resplandece com toda a roda, então se eclipsa; quando faz oposições ao sol, então a encobre a terra. Ajunte-se a formosura da terra com a do céu, e na união de ambas veremos o mesmo exemplo”.

(“Sermão nas exéquias de D. Maria de Ataíde”, IV)

 

 

 

“Entender muito e viver muito, ou no entendimento é engano, ou na vida milagre. A razão disto a meu juízo deve ser porque cada um sente como entende. Quem entende muito não pode sentir pouco, e quem sente muito não pode viver muito. O homem é vivente, sensitivo e racional: o racional apura o sensitivo, e o sensitivo apurado destrói o vivente”.

(“Sermão nas exéquias de D. Maria de Ataíde”, V)

 

 

 

“Os dias desta vida são dias nossos. Se foram nossos, tivéramo-los em nosso poder, e estivera em nossa mão lográ-los. Mas estão em poder de tantos tiranos quantas são as misérias da vida: só os dias da eternidade são dias nossos, porque ninguém no-los pode tirar”.

(“Sermão nas exéquias de D. Maria de Ataíde”, VII)

 

 

 

“Os primeiros tiranos da formosura são os anos, e a sua primeira morte é o tempo. Debaixo do império da morte acaba, debaixo da tirania do tempo muda-se; e se alguém perguntara à formosura qual lhe está melhor, se a morte ou a mudança, não há dúvida que havia de responder: Antes morta que mudada. A formosura morta sustenta-se na memória do que foi: a formosura mudada afronta-se no testemunho do que é. A vitória que da formosura alcança a morte é um rendimento secreto: cobre-o a terra: a vitória que da formosura alcança o tempo é um triunfo público: todos a vêem; e trazer o epitáfio no rosto, ou tê-lo na sepultura, vai muito a dizer”.

(“Sermão nas exéquias de D. Maria de Ataíde”, VIII)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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            Ler as obras do padre António Vieira, é percorrer muito do que de melhor se escreveu na nossa língua. Felizmente para quem se interesse pelo pe. António Vieira, a totalidade das suas obras existe na net em edição electrónica. Indicaremos apenas três sites a partir dos quais poderão aceder a elas:

 

http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/sermoes.html

 

http://www.geocities.com/Athens/Atrium/2466/sermoes.html#vol

 

http://www.triplov.com/letras/historia_do_futuro/

 

 

 

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Citações alusivas:

 

“O céu 'strela o azul e tem grandeza. / Este, que teve a fama e à glória tem, / Imperador da língua portuguesa, / Foi-nos um céu também”.

(Fernando Pessoa, “António Vieira”, in “Mensagem”, 3.ª Parte, II, 2.º)

 

 

 

“Filho peninsular e tropical / De Inácio de Loiola / Aluno do Bandarra / E Mestre / de Fernando Pessoa (…)”

(Miguel Torga, “António Vieira”, in “Poemas Ibéricos”)