“Que não me leia quem não seja matemático,
porque eu sou-o sempre nos meus princípios”
(“Aforismos
de Leonardo da Vinci”, 4)
“Tu vendes, Oh Deus! todos os bens aos
homens pelo preço do seu esforço”
(Idem,
6)
“ (…) Se não conheces Deus, não poderás
amá-lo; se o amas pelo bem que d’Ele esperas e não pela sua soberana virtude, imitas o cão que abana a cauda e festeja
com os seus saltos a quem lhe dá um osso. Se o animal pudesse conhecer a superioridade do homem, decerto o amaria melhor”
(Ibidem,
11)
“A verdade é de uma excelência tal que,
quando elogia pequenas coisas, as enobrece”
(Ibid.,
13)
“ (…) A verdade é o soberano alimento,
não dos espíritos vagabundos, mas das inteligências agudas. Mas tu, que vives de fantasias, preferirás os sofismas e as mentiras
dos charlatães nas coisas grandes e incertas, às verdades naturais, ainda que menos pretensiosas”
(Ibid.,
14)
“A proporção entre a obra humana e a natureza
é a mesma que medeia entre o homem e Deus”
(Ibid.,
16)
“Na descrição do homem devem-se abranger
os animais da espécie, tais como o macaco, o babuíno e muitos outros similares”
(Ibid.,
23)
“Os antigos chamavam ao homem um pequeno
mundo, designação justa, porque este é composto de terra, água, ar e fogo como o corpo terrestre e a ele se assemelha. Se
o homem tem os seus ossos, que lhe servem de armadura e sustêm a sua carne, o mundo tem as suas rochas que sustêm a sua terra;
se o homem tem dentro de si um lago de sangue, donde cresce e decresce os pulmões para a sua respiração, o corpo da terra
tem o seu oceano que, a cada seis horas, cresce e decresce também para a sua respiração; se daquele lago de sangue derivam
as veias que se ramificam por todo o organismo, analogamente o oceano preenche o corpo terrestre com inumeráveis veias de
água; no entanto faltam ao nosso globo os nervos, que nos foram dados porque estão destinados ao movimento, e o mundo, na
sua perpétua estabilidade, carece de movimento, e onde não há movimento, os nervos são inúteis. Em tudo o mais, o homem e
o mundo são semelhantes”.
(Ibid.,
25)
“Pensa, Oh Leitor! No que podemos acreditar
dos nossos antepassados, quando pretenderam definir o que é a alma e a vida, coisas indemonstráveis porque não são coisas
que a experiência possa claramente conhecer e provar, já que durante tantos séculos permaneceram ignoradas ou falsamente acreditadas”.
(Ibid.,
45)
“O homem é vítima de uma soberana demência,
que o faz sofrer sempre na esperança de não sofrer mais; e a vida escapa-lhe enquanto espera poder gozar-se dos bens que adquiriu
à custa de grandes esforços”.
(Ibid.,
48)
“Os ambiciosos, que não se contentam com
o benefício da vida e com a beleza do mundo, têm por castigo o não compreender a vida e permanecerem insensíveis à utilidade
e beleza do universo”.
(Ibid.,
56)
“A sabedoria, é filha da experiência”.
(Ibid.,
57)
“Uma vida bem cumprida, é sempre comprida”.
(Ibid.,
59)
“Os homens bons possuem, naturalmente,
o desejo de conhecer”
(Ibid.,
62)
“A aquisição de qualquer conhecimento é
sempre útil ao intelecto, que saberá rejeitar o mau conhecimento e conservar o bom”.
(Ibid.,
63)
“Demétrio* costumava dizer que não havia
qualquer diferença entre a voz e as palavras dos idiotas ignorantes e os ruídos do ventre causados pelo excesso de gases”
(Ibid.,
71)
* Demétrio de
Falero (?): Filósofo e estadista ateniense, autor de uma colecção de fábulas e responsável pela criação da Biblioteca de Alexandria.
“O ente amado atrai o amante, como o sensível
ao sentido, até que ambos se unem num só objecto. A obra é a primeira coisa que nasce dessa união. Se o ente amado é vil,
o amante também se torna vil. Quando a união convém ao que a realiza, isto traz-lhe prazer, deleite e satisfação. Quando o
amante se una à coisa amada, repousa nela”.
(Ibid.,
83)
“Se queres conservar a tua saúde, irás
consegui-lo na medida em que saibas evitar os médicos, porque os seus remédios pertencem ao género da Alquimia, a qual já
produziu tantos tratados como a Medicina”.
(Ibid.,
89)
“Pede conselho a quem saiba corrigir-se
a si mesmo”.
(Ibid.,
100)
“O mal que não me prejudica, é como o bem
que não me aproveita”.
(Ibid.,
101)
“Quem não castiga o mal, ordena que ele
se faça”.
(Ibid.,
104)
“O conselho: eis aqui uma coisa que, quanto
mais se necessita, menos se estima”.
(Ibid.,
106)
“Não existe maior nem menor senhorio, do
que o de si mesmo”.
(Ibid.,
109)
“Oh, humana idiotice! Não deixaste de ver
que, ainda que tenhas passado toda a tua vida contigo mesmo, não conseguiste reconhecer que a tua loucura é aquilo que possuis
em mais abundância? Seguindo a multidão de sofistas, enganaste-te a ti mesmo e aos outros. Desprezas as ciências matemáticas
que contêm a verdadeira noção das coisas que pertencem ao teu domínio; e passas logo a tratar dos milagres, pretendendo saber
coisas que escapam à capacidade da mente humana e não se conseguem demonstrar com nenhum exemplo natural; e pensas ter realizado
um milagre quando corrompeste a obra dalgum talento especulativo, sem te aperceberes que incorrias no mesmo erro daquele que
despoja uma planta do ornamento dos seus ramos, cheios de folhas, frutos e flores odoríferas”.
(Ibid.,
120)
“Felizes os que dão ouvido aos mortos:
leiamos bons livros e ponhamos em prática os seus ensinamentos”.
(Ibid.,
123)
“Tal como se vê os reis orientais andar
velados e cobertos, pensando que diminuiria a sua fama se expusessem e divulgassem a sua presença, assim vemos frequentemente
as pinturas que representam as potências divinas andarem cobertas com preciosos cortinados que não se desvelam sem prévias
solenidades eclesiásticas pautadas por músicas e cantos. E, apenas descobertas, a multidão reunida prosterna-se perante elas,
pedindo o restabelecimento da saúde perdida ou a salvação eterna, como se porventura o Ser figurado pela pintura estivesse
ali vivo e presente”.
(Ibid.,
127)
“Ciências vãs e cheias de erros, parecem-me
aquelas ciências que não nascem da experiência, mãe de toda a certeza, nem terminam numa noção experimental; o que equivale
a dizer que nem a sua origem; nem o seu meio, nem o seu fim, passam por qualquer um dos cinco sentidos”
(Ibid.,
133)
“Se duvidamos de cada coisa que nos chega
pelos sentidos, muito mais devemos duvidar das coisas que existem à revelia desses mesmos sentidos; como sejam a essência
de Deus, a da alma e outras questões similares, sobre as quais muito se discute e se desdiz. E sucede, na verdade, que, onde
falha a razão, o palavreado toma o seu lugar; coisa que não ocorre quando se trata de coisas certas. Diremos, pois, que onde
existem discussões ruidosas não existe verdadeira ciência, porque a Verdade tem uma só conclusão que, quando encontrada e
tornada pública, destrói para sempre o litígio; e, se ressurge, é porque estamos diante de uma ciência confusa, mentirosa,
e sem certezas seguras”.
(Ibid.,
134)
“Foge dos preceitos dos que muito especulam,
sem que as suas razões estejam confirmadas pela experiência”.
(Ibid.,
141)
“Quem discute alegando a autoridade, não
aplica o engenho, mas sim a memória”.
(Ibid.,
144)
“Comer sem apetite converte o alimento
numa refeição repulsiva. Assim, o estudo sem vontade frustra a memória, que não retém nada do que ingere”.
(Ibid.,
145)
“Como o ferro, por falta de uso, se cobre
de ferrugem, e a água se corrompe ou gela pela mesma causa, assim o engenho, sem exercício, deteriora-se”.
(Ibid.,
146)
“O movimento é a causa de toda a vida”.
(Ibid.,
156)
“Nenhuma investigação humana merece o nome
de ciência verdadeira, se não passar pela demonstração matemática”.
(Ibid.,
167)
“Nenhuma certeza pode existir onde não
se possa aplicar alguma das ciências matemáticas, ou daquelas que a elas estão unidas”.
(Ibid.,
171)
“Entre os estudos das causas e razões naturais, o da luz é o que mais deleita os observadores. Entre as grandes
virtudes das matemáticas, a certeza conferida pelas demonstrações é a que mais eleva e ilustra o engenho dos investigadores”.
(Ibid.,
179)
“O bom juízo nasce da boa inteligência
e a boa inteligência deriva da razão, deduzida de bons princípios; e os bons princípios são filhos da boa experiência: mãe
comum de todas as ciências e de todas as artes”.
(Ibid.,
187)
“A necessidade é mestra e tutora da natureza.
É o seu tema e a fonte das suas criações, o seu freio e a sua regra perpétua”.
(Ibid.,
195)
“Nas coisas mortas subsiste vida insensível;
elas recobram a vida sensível e intelectual quando são absorvidas pelo estômago dos seres viventes”.
(Ibid.,
200)
“A terra é uma estrela. Graças à esfera
aquosa que a envolve em grande parte, resplandece no universo como um simulacro do Sol, do mesmo modo que as restantes estrelas
de cujo conjunto faz parte”.
(Ibid.,
207)
“Se olhares as estrelas livres de qualquer
irradiação (o que podes conseguir observando-as através de um pequeno orifício feito com a ponta de uma agulha fina, e colocado
junto à vista), comprovarás que elas são de dimensões tão mínimas, que nada menor se consegue conceber. A grande distância
que nos separa delas é a real causa da sua proporcional diminuição, por mais que muitas dessas estrelas sejam de magnitude
infinitamente superior à nossa Terra”.
(Ibid.,
215)
“Os mariscos são animais cujo esqueleto
é exterior”.
(Ibid.,
230)
“Parece que me achava destinado a escrever
particularmente sobre o abutre, porque uma das primeiras recordações da minha infância é a de um abutre que, baixando sobre
o meu berço, vem até mim, abre-me a boca com a sua cauda e com ela golpeia-me muitas vezes entre os lábios”.
(Ibid.,
257)
“A água que tocas na superfície de um rio
é a última da que passou e a primeira da que chega: assim é o instante presente”.
(Ibid.,
249)
“Pobre discípulo, o que não supera o seu
mestre!”.
(Ibid.,
428)
“Tristeza: assemelha-se ao corvo que, observando
a brancura das suas crias, com grande dor se afasta delas, abandona-as com tristes lamentações e não os alimenta até que vê
nascer nelas algumas poucas penas negras”.
(Ibid.,
519)
“A nossa mente, abandonada, a si mesmo
se engana. Não há coisa que nos engane mais do que o nosso próprio juízo”.
(Ibid.,
727)
“Lei do menor esforço: toda a acção natural
realiza-se pelo caminho mais curto”.
(Ibid.,
729)
“Prazer que nasce da contemplação da natureza:
os ambiciosos que não se contentam com o benefício da vida e com a beleza do mundo, sofrem, como penitência, desperdiçar a
mesma vida e não conseguir atingir a posse da utilidade e beleza do mundo”.
(Ibid.,
733)
“Em toda a viagem há oportunidade de aprender
algo. A natureza é tão benigna e generosa que ordena as coisas de maneira que, em qualquer parte do mundo, encontres algo
para imitar”.
(Ibid.,
734)
“O pássaro é um organismo que trabalha segundo leis matemáticas; o homem pode construir um organismo igual, dotado dos
mesmos movimentos, ainda que de menor potência e capacidade para manter-se em equilíbrio. Diremos, pois, que a tal instrumento
fabricado pelo homem, só lhe faltaria a alma do pássaro, a qual deveria ser imitada pela alma do homem”.
(Ibid.,
245)
“Para o teu engenho de voar, o morcego
te apresentará o melhor modelo; porque o tecido das suas asas constitui uma armadura, ou, melhor dito, a ligação de uma armadura,
semelhante à vela principal de um navio”.
(Ibid.,
267)
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Os pensamentos supracitados de Leonardo da Vinci são extraídos dos seus "Cadernos", mais precisamente, da versão espanhola
dessa obra, com tradução e organização de E. García de Zúñiga (www.librosclasicos.org/), que pode ser "descargada" em:
http://www.librosclasicos.org/buscador/search.php?kw=vinci
A mesma obra em formato pdf:
http://www.arquitectuba.com.ar/textos/Aforismos%20Leonardo%20da%20Vinci.pdf
Duas
edições dos "notebooks":
http://italian.classic-literature.co.uk/leonardo-da-vinci/
http://www.gutenberg.org/etext/5000